elas, que ficaram de fora da lista, podem entrar, dramaturgias
_algumas que li e achei incríveis, pra relembrar que elas também são literatura, coitadinhas // #1
Participei na semana passada de um evento promovido pelo Núcleo Experimental de Dramaturgia (NED), na Faculdade de Letras da UFMG. Lá comentaram que na lista dos 25 melhores livros do século 21, publicada pela Folha, nenhum é de dramaturgia. O que não se sabe, entretanto, é se isso se deu pois nos últimos vinte cinco anos não foram publicadas boas melhores dramaturgias ou se os jurados se esqueceram que esse gênero tão gostoso de ler é literatura.
Não me importo muito com os porquês, eu nem terminei de ler a lista, são vinte e cinco livros, os melhores do século, vejam bem!! É muita informação para o cérebro, tem de ser feito em doses. Precioso para mim é o fato de que foram as dramaturgias que me ajudaram a fazer as pazes com minha escrita literária - só quem começou a trabalhar com as palavras e se esqueceu de colocar as suas próprias no mundo, sabe como é bom ter gratidão às partes envolvidas nisso.
Este texto, então, é uma pequena valsa para as convidadas deixadas de fora da festa. Não tenho pretensão nenhuma de listar melhores, muito menos de traçar algum panorama, não tenho nem conhecimento, nem amostragem para tal.
E aqui se insere um tremendo recorte geográfico, viu?! Estou consumindo dramaturgias com mais frequência apenas desde o início de 2024, e, aqui em Belo Horizonte temos a dádiva da Editora Javali, especializada em publicar textos teatrais e cinematográficos, então eu comecei a nadar nas águas dramatúrgicas por livros de pessoas conhecidas de vista, na cena, nos rolês e na vida provinciana de BH.
Quero apenas compartilhar algumas dramaturgias que li e achei incríveis, sendo todas de artistas de Beagá. Espero que pessoas de outros cantos do país apareçam e tragam indicações, que aí vai ser tudo de bom.
Amores Surdos, de Grace Passô
Eu sei que disse que não ia falar de melhores, mas aqui vai um xilique de fã. Como não tem nada da Grace Passô na lista da Folha?? A maneira como ela escreve é chocante! Algumas rubricas, que via de regra são orientações secas para a cena, com ela são poesia pura. Não quero dar spoiler nenhum, vocês que leiam a sinopse, só jogo uma frase do livro.
TEM COISAS QUE FORAM FEITAS PARA SE VIVER COM ELAS. ESSA É A NOSSA REALIDADE. NÃO SE ARRANCA A COLUNA POR CAUSA DA DOR NAS COSTAS
Por Elise, também da Grace, é outro ótimo e tem a peça completa no YouTube.
Teatro de Rua
À tardinha no Ocidente, de Marina Viana; Nossa Senhora, de Daniel Toledo; Ópera de Sabão, de Raysner de Paula; e PassAarão, de Allan da Rosa.
Aqui é uma paixãozinha mesmo. Teatro de rua fez parte da minha infância e vivo pelo dia que serei eu a apresentar numa praça. Muito bom passear por essas quatro dramaturgias, que trazem uma relação intrínseca com a cidade e o bom é que tem algumas fotos das apresentações.
vagarosa movência, de Amora Tiro e Tropeço, de Anderson Feliciano
Isso aqui é revolucionário, galera. Juntei os dois livros, pois acho que ambos colocam uma nova proposição para a criação dramatúrgica, é só experimentando na leitura pra vocês entenderem. Neles a gente descobre e percebe que a dramaturgia pode ser uma potente obra autônoma. Que sim, ela sempre tem o desejo de ir ao palco, à boca, sair sair das páginas; entretanto, ela também se afirma em si mesma, em sua própria autonomia artística. Os dois livros trazem mais do que letras e palavras para a brincadeira, isso que é lindo, o chacoalhar de possibilidades que Amora e Anderson nos apresentam. vagarosa movência, inclusive, tem o audiolivro no spotify e é super interessante de ver qual o corpo do texto, agora em voz.
Projeto Maravilhas, de Marcos Coletta
Aqui é bixisse e aconchego partindo de um evento canônico na cidade, o assassinato de um moço da elite social, no Parque Municipal, uma área de pegação de gays, bem no coração do centro, que aconteceu na década de 40. É um bonito texto sobre as dores e delícias de se florescer corpo LGBTQIA+.
(aqui uma pausa: carrego a tristeza de não ter visto nenhuma das peças acima, pois fiquei muitos anos sem ir ao teatro e perdi um pedaço efervescente da cena de BH. se tem muito tempo que você não vai ao teatro, você não merece isso, vá!)
Banho de Sol, de Talita Braga
Agora a dramaturgia de uma peça que eu vi, que é forte, triste, e que mostra como teatro é potência de afeto, de reconexão, de reimaginar a vida. A Zula Cia. de Teatro passou um ano ministrando oficinas numa penitenciária feminina e a partir disso montaram a dramaturgia e a peça. Se um dia você tiver a oportunidade de ver, VEJA! É teatro documentário, que eu nem sabia que existia! Muito legal ver isso transcrito em dramaturgia.
Esses foram os textos que queria comentar, se tiver interesse em conhecer mais livros de teatro , indico passear pelos sites da Javali e da Cobogó, as duas maiores editoras que eu conheço e que atuam nesse nicho.
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Chegamos ao fim do texto, que é o meu primeiro nestas terras substaquianas. Se você chegou até aqui, indico fortemente que procure um livro de dramaturgia pra ler. São leituras gostosas, costumam ser ágeis e rápidas (afinal, é menos que o tempo de uma peça).
Muito obrigado pela companhia e nos vemos na semana que vem. A ideia é iniciar o compartilhamento dos resultados da pesquisa artística “estudos para um corpo cósmico”, aprovada em edital da Lei Paulo Gustavo. Vou traçar uma perspectiva da multiplicidade dentro da produção artística no primeiro texto e nas semanas seguintes trazer os caminhos filosóficos da pesquisa.
Se quiser conhecer um cadinho mais de mim, é só dar um pulo na Sobre, e, para acompanhar um cado da minha vida, só me seguir no Instagram.
Beijo grande e até!
Evoé!